terça-feira, outubro 24, 2006

Tic Tac


Sentia as pestanas colarem-se enquanto deseja veemente que o sono chegasse. Não aguentava mais aquela tortura em forma de 'tic tac' que dilatava as minhas artérias. Estava tudo a explodir, estrilhaçado em cada canto da casa. Fui perdendo cada peça de colecção como quem perde um minuto de vida. Estava um caos. E os cortes na palma da mão iam-se esvaiando em sangue como uma fonte inesgotável.
Ergui a cabeça. E lá estavam eles, os monstros imponentes que ecoavam como um sopro ao ouvido. [Tic Tac. Tic Tac.] Saltitavam eles numa dança interminavelmente dolorosa.
Queria chorar sorrisos como quem semeia a mais bela flor. Desejar uma orquestra à minha frente que abaface aquele penoso entrelaçar de segundos onde se repercutiam os desabafos das minhas lágrimas. Queria esquecê-los como quem perde um relógio no dicionário emocional. Sentia-me a mil metros do chão. Onde me roubavam com o tempo as nuvens de algodão e a terra perdida onde ser feliz é banal.
Quero de volta as malhas coloridas onde equacionava os sabores dos frutos que me arregalavam os olhos. Quero de volta aquele pano que esvoaçava entre a ponte dos dias. Não sei como se chama. Há quem lhe chame tempo. Não sei. Sei que vou precisando antes que me afogue no poço onde não há distinção entre genéricos e mágoas sentimentais.

Divide-me o relógio em gomos.

1 comentário:

TP * disse...

meu amor. :) sempre com textos carregados de intensidade! quem me dera parar o tempo às vezes... quem me dera poder acelerá-lo outras vezes... quem me dera ainda outras vezes que o tempo não existisse... quem me dera cristalizar momentos e ir buscá-los à gaveta sempre que quisesse!... quem me dera ser realista tb! lol :P

imagens sempre perfeitas*
bjo