sexta-feira, janeiro 15, 2010

Em silêncio

É ensurdecedor tudo o que me vai rodeando: a chuva e o seu fragor, o vento enraivecido, as conversas baldadas que lutam desenfreadamente contra o meu desejo.

Rendo-me ao cair da noite, tempestuoso e desassossegado, faço-me acompanhar do peso dos meus pecados que se mesclam com o estado do tempo, lutando contra a paz das minhas preces como a chuva luta contra os vidros do meu quarto.
Lá pelos céus semeia-se a tempestade, e nem as nuvens, gordas e imponentes, escondem a fúria das águas que vão caindo. Aos poucos, misturam-se com o meu rosto perdido no breu da noite, já humedecido pela água salgada de quem reza em surdina.

O dia amanhece, menos proceloso, de céu entre-aberto como uma criança de cinco anos ao espreitar por entre os dedos a fazer batota. Ainda assim o barulho não pára, a cidade está acordada e eu só quero descansar, deleitar-me por entre a fuga de decibéis e esquecer-me de quem sou e o que me traz aqui.

Agora quem faz batota sou eu, já não chove e não há mais água salgada sobre a face. O dia volta a cair, já não há azul no céu por entre as nuvens, desta vez, menos gordas, e os vultos brancos do que delas sobrou. Sou engolida pela pedantismo das luzes da cidade, alardeando a confusão das ruas cheias de gente e assim revolto-me com as conversas alheias, discordo de todos os sons que atravessam o meu caminho, adoeço de tanto ouvir o frenesim do mundinho que me enregela. Dói-me o estômago de tanto me contorcer para me concentrar em tudo menos nos ruídos, os meus tímpanos rasgam-se de ouvir tanta barbaridade, fujo de mil histórias como o Diabo foge da cruz. Sim, sou fraca e desmancho-me ao primeiro encontrão que levo, à primeira buzinadela que oiço. Encosto-me e páro junto ao passeio.
Já esgotei um dicionário de tanto decifrar a tortura dos pregões que vão contra mim. Há caminhos, definitivamente, com os quais não me quero cruzar!!
No fim do jogo, rendida, cruzo os braços que enlaçavam-me os cabelos, escondo-me nos corredores da minha melodia, iluminada pelo silêncio de quem resgata o melhor que ainda sobrou.

O dia acaba, vencida pelo cansaço, encontro-me com o silêncio, enfim!

3 comentários:

Rafa disse...

ola..
tens muito bom gosto para a musica e tambem escreves muito bem.
se quiseres passa pelo meu blog
bjo

CuiShLe disse...

Sem palavras! :X
E num dia estranho para ler algo assim :|

André Silva disse...

Epah... que surpresa!!
ando eu perdido pelos facebooks e encontro assim o teu blogue.
parabéns escreves muito bem.

porque o silêncio é o melhor som que se pode ouvir.