quinta-feira, julho 09, 2009

Diz o meu nome

"Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com suavidade
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça
.
Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno
.
Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci
.
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome"

Mia Couto

Como se eu te fosse estranha

5 comentários:

ph disse...

Tenho trpeçado nos textos deste senhor e têm me todos deixado surpreso,

Anónimo disse...

"Diz o meu nome como se eu te fosse estranho" Faz-me ouvir. Diz..

Anónimo disse...

Mia Couto, um novo nome que tenho de estar mais atenta, este poema é mesmo lindo :)

"iz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com suavidade
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça"

Desculpa a invasão
Um abraço

Claudisabel disse...

Amo mesmo este poema... Tou a tentar encontrar o caminho certo para sorrir :)

Filipa disse...

Mia Couto, grande senhr. Um poema com demasiados significados importantes. Bj
Parabéns pelo blog