segunda-feira, setembro 18, 2006

(Re)começar



Mudar de espaço é como mudar de casa.
É arrastar cada móvel ao som de uma bateria pesada deixando para trás cada pedaço de um átomo outrora respirado com tanto fervor.
São as emoções, as sensações, para alguns, até antigas paixões. São as infinitas horas ao telefone, as histórias que se contam à lareira. Os bolos que nos adoçaram as tardes de inverno e os gelados que nos refrescaram nas noites de verão.
E quanto mais depressa tentamos arrastar os móveis para a carrinha das mudanças, mais sentimos os musculos a cairem um a um. Cada vez nos encolhemos mais. E aninhados contra o peito voltamos à posição fetal dispostos a um novo (re)começar.
E assim vamos marcando a nossa passagem, numa eterna mudança ao estilo saltinbanco como se tudo culminasse no sítio de origem.
Um dia paramos e pensamos. Afinal o círculo não é perfeito e vemos as rectas que o atravessaram. Foram elas que nos fizeram mudar? Talvez. Algumas muitas vezes terão sido certamente. Mas a mudança não deixa de ser mudança. E tal como quando se muda de casa, quando se muda de espaço trazemos connosco cada momento que arquivamos na gaveta das memórias. Lenta e docemente temos necessidade de ir partilhando tudo o que nos adoça a alma e nos enche a almofada de água salgada, mas nos traz de novo aqui, dispostos a recomeçar, mesmo quando o fim se adivinha nas nossas vidas.
Nunca achamos ser tarde demais.E fazemos disso o motor de arranque para cada acordar num novo círculo em linha recta.
Talvez seja melhor dizer, nunca aceitamos ser tarde demais.







Saudades! Sim... talvez ... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê? ... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca

2 comentários:

Catarina Ferreira disse...

nunca é tarde demais para nada :D basta querer...

obrigada pelo teu comentario :D invade as vezes que quiseres

beijinho*** xD

S. disse...

Bem-vinda ao novo espaço, onde chegaste para vires brincar com as palavras, dançar com elas, porque a vida é música e elas são fogo que se derrete na tua boca. Obrigada por teres encontrado o caminho até mim e me teres trazido aqui, para me deslumbrar. Surpreendes-me a cada dia com essa tua intimidade infinita com os dizeres. Obrigada :)

Bjos pa tu